segunda-feira, 27 de dezembro de 2010


“ O tempo perdido não pode ser recuperado. Sua beleza só pode ser vivida como ausência: a beleza dói... Magia é isto: invocar o que se foi, mas que continua a nos habitar. Ou será poesia? ”
(Rubem Alves)
   
                                                                    



 “ Se alguém te perguntar o que quiseste dizer com um poema,pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo... ”
( Mário Quintana).




     
     

Quem sou eu:   
Stella de Sanctis, bióloga, autora de peças teatrais e  aprendiz feliz de poetisa. Criei este espaço poético, como sarau virtual, para apresentar minha poesia. Para mim a escrita é necessidade diária, exorcismo, terapia, oxigênio.
Bem vindos!

 


Prelúdio (trecho)
  ... Algo de mim se vai, pacificado em tinta preta,
Subjugado pela sina alucinada das palavras
Do silêncio, repousado na vertigem,
Salta um naco meu que canta e grita
    Como outros tantos derramados nas estradas...
Stella de Sanctis



  Nua


    Dialeto em cardamomo,
   Gomo adocicado policromo,
  Alma sem selo, dama em pêlo:
     Desvelada fúria sagrada
      Às retinas curiosas.

      Desfiando visceral na coxia d’alma,
          Tinta santa decora pranto em anagramas,
          Palavreados enfeitiçados desnudam estigmas.
        Carne viva sangra culpas em sonetos torporizados:
            Despojos de solidão, escombros das batalhas ocultas.

      Godiva em Rocinante,
     Cavalgo contra inércia,
       Nua em verso,
     Virada ao avesso,
      Desfolhada em fim e começo.


        Stella de Sanctis


  
                                                                                                           Pino Daeni                                    Exílio


Alisando fio de orgulho nos olhos de águia,
  Emergida da solidão, escotilha escancarada,
  Vislumbro o porto do exílio na enseada.
  De nada adianta o canto da montanha,
  Nos lábios feridos por espinhos dispersos,
       Da última explosão de versos?...


  Sou dos gumes dos punhais sangrentos:
Firo e corto!
 Não importa o rastro, o lastro,
O mastro é panteão de ilusão, furacão. 
 Meu corpo é caule de arrasto,
 Mistério atravessado, entalhe de perdição.

    Minha arribação vem das aves de rapina,
     Das cobras caninanas, das suçuaranas,
       De riba das tempestades sulinas,
      Das fêmeas felinas, das bailarinas
      Que dançam a flor na lingua libertina.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    

    Quero o alto das pedreiras, que as pedras,
     Companheiras, não saem do chão,
      Mas gritam meus versos, sem boca,
     Deixando um perfume vilão,
      No céu de seda que beija ondas e docas
  De graça...


 Stella de Sanctis







  
 
                                                                                                      
 Posição

 Trazia rosas crispadas nas mãos macias,
  Primaveras espremidas de quimeras idas.
    Já nem importavam espanto e breu...
   Orfeu levou o néctar da vestal, o apogeu,
    Jogando tempo em espirais esquecidas.
  Partida hora na demora, deprimida,
                          Azedou água e mel na boca.                                                                                                
   Virei fera, fiquei louca!... Gritei em troca,
     Até rasgar a voz em sangrenta alforria.
 Deixei a parada masmorra.

      Fui à forra!... Agora vivo na gangorra,
        Puxando encanto dobrado na tez descoberta.
     Ferida, desperta, tempo é luta!
      Pouco importa distância... Eu não salto,
  Eu voo!

 Stella de Sanctis

 
    
                                                               Pino Daeni
                                 
        Novas diagonais


            Calejei-me: sou magna-impenetrável,
                    Psico-impermeável, tranquilizadoramente forrada de calos.
                 Estrela vermelha com nervos antiabalos.
                 Roí o tempo carrasco e insuportável,
                Dias e dias quais eras de esferas solitárias:
                       Clausuras de saudade maçante entupindo artérias de silêncio.

                         Vomitei a dor famigerada, a tortura inquisitória,
                        Rasguei o véu cinzento do sacrifício:
                          Anestesiei-me de ti!
                      Pisoteei tua ausência descabida, alardeada como hospício:
                            Tornei não recorrente a retórica exasperante
                               Da tua boca úmida e insistentemente ausente.

                         Alargo as madrugadas em luas desfraldadas,
                     Disponível ao presente, até que outro rosto se apresente
                         E trace diagonais passionais na minha pele enluarada.
                          Teu tempo já é nada, vertente desfigurada,
                           Anulada na luz nascente de outra estrada.
                            Tantas vezes morri, já tanto renasci de superar-me!

                                                                   Stella de Sanctis                                                                 





      
                                                          


        Allegro ma non troppo


         Já não há olhar encolhido:
            Agigantei o cristalino
              Na vastidão do mundo.
            Desbravei o espiral enviesado,
             Sou água de todos os cantos.

              Encontre-me em Dubai, Lisboa, Serra Leoa,
                Nos piquetes, nos banquetes, num pernoite,
                 Num sarau em Budapeste...
                 Aliso allegro no peito:
                      Jeito perfeito de mastigar o tempo.

             Sacrifício, benefício,
            Ímpeto, frêmito;
              Testemunha dos segredos,
                Encouraço certos medos,
                Desfaço tudo que prende.
                                     
                  Liberdade em giro presto,
                Densidade etérea, anacronismo manifesto.
                  Sol e noite, lua e dia, poesia por companhia.
                   Me embriaguei de euforia?
                   Allegro... ma non troppo.


                  Stella de Sanctis
                                                            



  



 
                                                                                  Ana Luisa Kaminski 
Mimética


 Sou da mata, não me acerto na cidade.
 Defendo-me do cativeiro de concreto,
Num desejo violento de liberdade.
Desamarroto as asas do pensamento,
Extrapolo pés automotivos, passivos,
Sedentos... Olhos de onça pintada, radar de morcego,
Patas de guará correm no cimento.


Naturalmente anti-cibernética, instintiva, apelativa,
Permissiva... Sou bicho-palha, macaco-prego,
Saci de duas pernas, Caipora, trilha refrescante.
Toda mata vive no meu corpo, plagas verdejantes.
 Em mim vivem formas selvagens,
Sonhos que devoram ansiedade, viragens:
 Bosque de mil segredos e folhagens.


Minh’alma ponteia verde estandarte.
Disfarçada na anacrônica Campinas fumegante,
Sou anti-vigas de aço, primitivamente blindada.
Naco de floresta oculta por pele esbranquiçada.
Mimética, simbiótica, defendo-me da morte.
Mas se um talho, um corte...
Verão que é seiva meu suporte.

 Stella de Sanctis




      
                                                         


Até se diluir

 A tarde, em lise nestes vultos
    Que cruzam meus passos lentos,
    Confunde verdes no mar cinzento.
    Gelo e fogo por dentro!

 Deixo-me divagar, devagar,
     No andar retrô, no vento que enverga.
    Ninguém suspeita que me rasga
      A fome oculta na nesga da prega.

     Ninguém imagina que levo no esboço
     Poças de silêncio e alvoroço,
      Crispado e liso, vácuo e peso...
       Largo- estreito, passo.

E um carro amarelo cruza avenida,
     Dobra esquina, atrás da ilusão,
     Deixando rastros do som da vida.

  Minh’alma, numa bolha de sabão,
   Intenta pousar no chão,
 Como pingo de chuva.
 Stella de Sanctis

 
      
Depois da chuva


Cai o último pingo d’água na serra.
A vida se insinua linda e úmida.
Abre o céu de sol em marcha.
Não mais enxurrada, campos de amoras.
Trompetes e pífaros em destaque,
Flautas, violinos no canto da tarde.
Euforia no parque!
Trilhas pulsando entre brisas,
Versos em maços de margaridas,
Beijos em lábios acordados
Nos gritos da vida.
Uma ninfa louca e mundana,
Nua de alma e sombra,
Passa seus véus transparentes,
Espalhando paixão em sementes.
E os jequitibás nem se assombram...




Stella de Sanctis

 



    
Linha morta

           
Sob um sol fendido, olhos encasulados,
      Distantes dos lagos azulados,
    Provocam ruptura na linha da tarde.
    Ecos de uma palavra suplicam em papiros ocres.
     Melancolia?...   
                                                                                                        
                                                                                                           
     Meu abismo é roxo,
   Serpenteia amuradas de heras secas,
    Suga o corpo cálido,
         Degrada tudo que o toca.

          Nuvens vítreas, vagas ignaras,
            Burburinham passado no rosa crepúsculo.
               Lírio cruel vaza de esfera soterrada:
              Prega negra, tristeza petrificada.

          Ônix sobre leito seco,
           Tocaia na tarde parada.
           ... E eu afago luto
               No coração de cedro...


                 Stella de Sanctis


 

      /// 
                            
  Abordagem


       Mãos sangradas de dilacerar cactos
       Teciam poesia pra despertar a pele fria.
        Caracóis dos cabelos repartidos
         Pingavam parca luz acobreada
          Sobre ardósia do terraço anoitecido.

          Espelho refletia o vento que levava feno,
            Tentando evaporar a lua.
          Escorrida das palavras, cera rutilante
          Acendeu-me um terceiro sol nos olhos,
            Acomodando verdes milenares
             Na soleira da face, nas marquises do espírito.

             Meio às claves harmônicas de Jobim,
               Em mim, nuvens em ebulição e o verbo,
               Um grito dentro, semente in flama.
               E já o dia me esperava num porto esmeralda,
               Pra dividir o fogo santo com meu canto,
                Até que o amor me descobrisse.


   Stella de Sanctis

                                                                                                                                       

      
                                                                                                                      Salvador Dali

      O futuro nos sabia


  Na proa do barco branco,
  Soltavas o riso lacônico,

 Pro clique da Polaroid.








 Escorriam sonho nas águas.

Montanhas cintiladas e doces

Em plano segundo a cordilheira:


 
            
                       
 Transcendência


 O amor não tem piedade, nem fronteira,
Mastiga o verbo, engole e regurgita,
Apunhala e ressuscita.
Sacode o cosmos com gemidos,
 Cria o próprio vernáculo, inventa:
Entoa seus bemóis e sustenidos.

  Na nudez de um madrigal felino
  Ecoa na pele qual violino.
 Mostra metáforas como cicatrizes,
Rasga alma, expõe as vísceras.
Seu codinome, em sementes vorazes,
 Sorve água na espera, transpõe a terra.

                                                 Extrapola evidências, incorpora segredos,
                                                Morre do que vive, sobrevive no tormento.
                                     Lágrima e sorriso, corte e ungüento.
                                      Sangue, sêmem, vida, movimento.
                                         Transcende razão e alfabeto...
                                       Nem lhe basta a língua dos anjos.

   
Stella de Sanctis

 





                 









Lançameno do livro “Roteiro das Cores”- Livraria Martins Fontes- São Paulo





Lançamento do livro “Roteiro das Cores” - Livraria Cultura- Campinas



                                



























Em breve, lançamento do livro        “O Fogo das Palavras”





Palmas rosadas da messe








Cantavam-te as domingueiras,

Dos panos das benesses.

 Vestiam manhã costeira
Jardineiras, vozes incorrigíveis, 
  Olhares lânguidos, sereias voláteis.


 Vento de centelhas
     Sacudia maré de espelhos

    Nos éteres ondulantes.






Já me pressentias...

Perto e distante,
Quanto de mim já te cabia!



Stella de Sanctis